sexta-feira, dezembro 30, 2005



1995 - Heiner Müller died on December 30

Tendo sendo sempre a guerra e a morte como pano fundo, Heiner Müller surge como um dos mais importantes e peculiares dramaturgos do século XX. Paralelamente ao seu trabalho no teatro, destacou-se pelas posições políticas e culturais que defendeu, nomeadamente no que diz respeito à divisão e posterior unificação da Alemanha.



“A minha linguagem é tida como difícil, por razões estranhas. Só pelo facto de ser bastante simples, directa e precisa. As pessoas já não estão habituadas a ouvir textos precisos. Assim que se formula algo mais preciso, deixa de ser entendido, porque ninguém acredita que seja isso mesmo que se pretende dizer… É assim que nasce a lenda da dificuldade.”

Heiner Müller

quinta-feira, dezembro 29, 2005


Jacques Louis David (l748-l828) foi um dos pintores mais representativos do Neoclassicismo em França. Adepto incondicional dos ideais iluministas, acabou por desempenhar o papel de pintor oficial da Revolução Francesa. No "Juramento dos Horácios" (na imagem), por exemplo, torna-se evidente o papel determinante que a sua arte teve no processo revolucionário, na medida em que foi utilizada para educar o povo e lhe incutir valores morais.




Para este quadro, pintado poucos anos antes da Revolução, Jacques Louis David escolheu um episódio da história romana, narrado por Tito Lívio, através do qual procura exortar os seus concidadãos a jurarem fidelidade aos valores éticos (disciplina, sacrifício e recusa do luxo), com o objectivo de derrubarem o Antigo Regime, à semelhança dos irmãos romanos Horácios que decidiram sacrificar as suas vidas em favor da pátria.

Incumbido de organizar a Academia de Belas-Artes de Paris, promulgou, em 1795, um código artístico, que devia reger a arte pictórica daquela instituição, de acordo com os seguintes princípios fundamentais: os temas, deviam ser nobres, inspirados na história ou na mitologia clássica, excluindo-se a inspiração na Natureza e a representação de assuntos triviais. No aspecto formal e técnico, atribuía importância primordial ao desenho e um papel secundário à cor.



Qualquer um destes aspectos encontra-se patente no “Rapto das Sabinas" (na imagem), uma tela que relata outro momento da história da Roma Antiga e que encerra uma alusão política evidente para os contemporâneos: o apelo à reconciliação de todas as classes sociais, após os conturbados momentos vividos durante a Revolução.
Na vertente plástica, típica do neoclassicismo, o cromatismo foi desvalorizado em favor do traçado do desenho, tão perfeito e com tal nitidez de contornos, que as figuras parecem estáticas e paradas no tempo. No começo da Revolução, David esteve ligado ao grupo extremista dos Jacobinos de Robespierre. Foi eleito para a Convenção Nacional em 1792, a tempo de votar a execução de Luís XVI. Mais tarde, com a destituição e morte de Robespierre, foi preso.
Quando Napoleão Bonaparte tomou o poder, apercebeu-se de que poderia utilizar o talento de David em benefício próprio e encomendou-lhe uma série de quadros, com o intuito de realçar a sua figura como Imperador dos Franceses. Por seu lado, David viu em Napoleão o único homem capaz de salvar a França, sem trair os princípios revolucionários em que acreditava.




A “Coroação de Napoleão” e "Bonaparte Atravessando os Alpes”, por exemplo, demonstram o seu entusiasmo pela figura do imperador.
Com a queda de Bonaparte, e a restauração das Dinastia dos Bourbons, David foi exilado para Bruxelas, e deixou praticamente de pintar. Morreu em 29 de
Dezembro de 1825.
Alfredo Saldanha

quarta-feira, dezembro 28, 2005

A 28 de Dezembro de 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière, inventores do cinematógrafo, faziam, no "Grand Café" do Boulevard des Capucines, em Paris, a primeira apresentação cinematográfica.



No ano seguinte, começaram uma digressão para dar a conhecer o novo invento em Londres, Bombaim e Nova Iorque. As imagens em movimento foram um enorme sucesso. Os primeiros filmes dos Lumière limitavam-se a registar cenas do quotidiano, aspectos da vida das cidades, e imagens da vida familiar. Em breve, porém, o "cinematógrafo" ou "animatógrafo" espalhou-se pelo mundo inteiro com os documentários e filmes com situações do quotidiano.

O cinema surgiu, então, como um novo meio de expressão e uma arte que, englobando todas as outras, conseguiu ser exaltada como a mais típica dos nossos dias. Um dos seus aspectos mais relevantes é a combinação de vários elementos, próprios de outras artes, tais como a música, o teatro e a literatura. A Sétima Arte, como ficou conhecida, integra uma linguagem específica e original que se foi adaptando ao evoluir das técnicas, nomeadamente no que diz respeito à tecnologia da acção, fotografia, reprodução do som, filmagem e montagem.
Alfredo Saldanha

terça-feira, dezembro 27, 2005


Em 27 de Dezembro de 1923 morreu Alexandre Gustave Eiffel (1832-1923), um dos mais revolucionários construtores da era moderna.
Na 2ª metade do séc. XIX, a arte de construir, caminhando de mãos dadas com a revolução industrial, adaptou-se aos novos desafios reinventando soluções e diversificando as tipologias através do recurso a novos materiais, como o ferro e o vidro, e a processos técnicos inovadores. Foi então possível conseguir uma economia de tempo e de mão-de-obra, edifícios de grandes vãos, mais leves e resistentes, e que se puderam adaptar a funções tão diversas como fábricas, pontes, estações de caminhos de ferro, mercados, pavilhões de exposições, etc.
Representante destas inovações, o jovem engenheiro Gustave Eiffel ficou famoso ao construir, no Champ de Mars, em Paris, a Galeria das Máquinas, uma estrutura toda em ferro, com um vão de 35 metros, para a Exposição Universal de 1867. E, alguns anos mais tarde, na Exposição de 1889, edificou aquela que se tornaria a apoteose da arquitectura do ferro: a Torre Eiffel.





Com 312 metros de altura, esta torre tornou-se o mais alto edifício até então construído no mundo. Para além de constituir uma impressionante demonstração das possibilidades da técnica, ela tornou-se também um símbolo da modernidade triunfante e uma verdadeira obra de arte. O mundo da indústria e da máquina, durante tanto tempo sinónimo de fealdade, acabava por criar uma estética própria e uma nova ordem de beleza.
Mas o seu autor, era já célebre por outros trabalhos como a estrutura metálica que suporta a Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, as comportas do Canal do Panamá, o Viaduto de Gabarit e numerosas pontes.
Em Portugal, algumas das mais importantes obras da engenharia do ferro, nomeadamente pontes, foram realizadas pela casa Eiffel. Muitas já foram substituídas, como as da Gelfa, Barroselas e Barcelos (Linha do Minho), Vila Meã e Tâmega (Linha do Douro). Estão ainda de pé as de Valença, Viana do Castelo, Oeiras, Alviela, Asseca e a de D. Maria I, no Porto. Esta última foi a maior obra de Eiffel no nosso país. Aqui, e pela primeira vez, substituiu os apoios intermediários por um único arco com um vão de 150 metros. Eiffel deslocou-se ao nosso país para conhecer o local e acompanhar de perto o início da construção. Ao cabo de 22 meses, a ponte era solenemente inaugurada com a presença do seu construtor.






Alfredo Saldanha

segunda-feira, dezembro 26, 2005


A 26 de Dezembro de 1891 nasceu o escritor Henry Miller.
Tinha quase 50 anos quando publicou primeiro livro, Trópico de Cancer, uma narrativa escrita com base nas experiências de Miller com as prostitutas de Paris. A controvérsia gerada à volta dele encheu páginas de jornais e discussões literária. É autor de algumas das obras literárias mais marcantes do século XX, entre as quais trilogia The Rosy Crucifixion – Sexus, Plexus e Nexu.


Monstro, robot, escravo, ser maldito - pouco importa o termo utilizado para transmitir a imagem da nossa condição desumanizada. Nunca a condição da humanidade no seu conjunto foi tão ignóbil como hoje. Estamos todos ligados uns aos outros por uma ignominiosa relação de senhor e servo; todos presos no mesmo círculo vicioso entre julgar e ser julgado; todos empenhados em destruir-nos mutuamente quando não conseguimos impor a nossa vontade. Em vez de sentirmos respeito, tolerância, bondade e consideração, para já não falar em amor, uns pelos outros, olhamo-nos com medo, suspeita, ódio, inveja, rivalidade e malevolência. O nosso mundo assenta na falsidade. Seja qual for a direcção em que nos aventuremos, a esfera de actividade humana em que nos embrenhemos, não encontramos senão enganos, fraudes, dissimulação e hipocrisia. Conhecer do facto de que, por muito alto que estejam colocados, os homens não conseguem, não ousam, pensar livremente, independentemente, quase desespero de me fazer ouvir. E se falo ainda, se me arrisco a exprimir os meus pontos de vista sobre certas questões fundamentais, é porque estou convencido de que, por muito negro que seja o panorama, uma mudança drástica é, não só possível, mas até inevitável. Sinto que é meu direito e meu dever de ser humano promover essa mudança. Sem querer, de modo algum, vangloriar-me, gostaria de fazer notar que ao longo de toda a minha obra se encontram provas de que eu próprio sofri uma transformação: e é perfeitamente óbvio e claro que o homem que narra a história da sua vida não é o mesmo que o «herói» que percorre as páginas desses romances autobiográficos. O homem que confessa os seus pecados, os seus crimes ou os seus erros nunca é o mesmo que os cometeu."

Henry Miller em 'O Mundo do Sexo' de 1940

sexta-feira, dezembro 23, 2005


No dia 23 de Dezembro de 1908 nasceu o fotografo e jornalista Yousuf Karsh. É dele a famosa foto do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill, tirada em 1941, que se viria a tornar a imagem mais conhecida do estadista britânico. O retrato ficou na história. porque Churchill insistia em ser fotografado de charuto na boca, e conta-se que Karsh arrancou-lho e disparou a máquina fotográfica antes que Churchill reagisse.



Em 60 anos de carreira, fez mais de 15 mil trabalhos e documentou imagens de 12 presidentes norte-americanos, além de personagens famosos, como Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Einstein, Fidel Castro, Hemingway, Picasso, João Paulo II e Nelson Mandela. Ao longo da sua carreira Yousuf Karsh foi galardoado com vários prémios. As suas fotografia fazem parte de colecções permanentes de importantes museus dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.


Self-Portrait of Yousuf Karsh

quinta-feira, dezembro 22, 2005




Jean Michel Basquiat nasceu em Brookyn, Nova Iorque, a 22 de Dezembro de 1960. Descendente de pai haitiano e mãe porto-riquenha, começou a exprimiar as suas ideias através de graffities que cobriam as paredes e muros de Nova Iorque. Nestas intervenções pintava símbolos de variadas culturas, onde também se incluíam ícones da cultura de consumo norte americana, em imagens que reflectem a preocupação com a opressão e o racismo. Foi Andy Warhol que tornou Basquiat uma celebridade, levando-o a expor nas mais prestigiadas galerias da América e Europa. Morreu em 1988 aos 28 anos vítima de uma overdose de heroína.




Em 1989, neste dia, morria o escritor, dramaturgo e poeta irlandês Samuel Beckett. Autor de uma vasta obra, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1969.


Samuel Beckett
Serena I

fora do monumental Museu Britânico
Tales e o Aretino
no seio do Regent’s Park a phlox
dá estalidos sob o trovão
beleza escarlate no nosso mundo peixe morto à deriva
todas as coisas repletas de deuses
comprimidos e sangrantes
um pássaro tecelão é tangerina a harpia já não quer saber
nem o condor na sua boá imunda
de olhos fixos olham sob a serra dos macacos e contemplam os elefantes
a Irlanda
devagar a luz avança na sua ravina nativa
suga-me para longe para a segurança
do bem ardente de Jorge a broca
ah do outro lado do caminho uma víbora
enceta o seu rato
branco como a neve
na sua deslumbrante corrente de forno de peristalse
lamae labor

ah pai pai que estás no céu

Dou por mim confundindo o Palácio de Cristal
com as Ilhas Afortunadas de Primrose Hill
ai de mim devo ser assim mesmo
por isso em Ken Wood quem me encontrará
a respiração retida no meio das moitas
só os namorados perseguidos
surpreendo-me impelido pelos muitos funil articulado
para prestar preito a Tower Bridge
a cortesia da víbora que vai e vem da City
até que na penumbra uma barcaça
cega de orgulho
atira para longe com as escarvas das básculas
depois no porão cinzento da ambulância
palpitando mesmo no escoar dos suspiros
depois aperto-me lá em baixo entre a canalha
até que um garoto da rua malditas as suas olheiras
pergunta se já acabei de ler o Mirror
em fúria tremenda e a passos coléricos passo debaixo dos Alojamentos para Casados
a Torre Sangrenta
e lá ao longe a toda a velocidade descortino a gigantesca cabana de Wren
e amaldiçoo o dia enjaulado ofegante na plataforma
debaixo de uma urna bojuda
não nasci um Defoe

mas em Ken Wood
quem me encontrará


minha irmã a mosca
mosca caseira vulgar
saindo do lado das trevas para a luz
agarra-se ao seu lugar ao sol
afia as suas seis pernas
rejubila no seu voo planado no seu voo pairante
é o Outono da sua vida
não poderia servir a febre tifóide e mammon.

Samuel Beckett

quarta-feira, dezembro 21, 2005


1375

morreu Giovanni Boccaccio
Poeta e humanista, estudou direito e línguas clássicas, e participou muito activamente na vida pública e cultural da cidade de Florença. A sua principal obra foi Decameron. Nesta obra apresenta um conjunto de cem história contadas durante dez dias por dez jovens ricos que se refugiaram nos arredores da cidade de Florença durante a peste negra, representando cada um deles um estado diferente de ânimo. O homem enquanto indivíduo, as suas qualidades e a sua psicologia, e a aceitação da vida tal como é, são as directrizes que unem as narrações. Esta obra, que é um clássico da literatura medieval, motivou as mais duras críticas das autoridades religiosas e sofreu toda espécie de censura. Em 1971 Pier Paolo Pasolini, inspirado na obra de Boccaccio, filmou “Decameron” num registo de comédia moral anti-clerical.






pinturas de Alessandro Botticelli sobre Decameron

1940



morreu o escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald




nasceu o músico Frank Zappa

terça-feira, dezembro 20, 2005




Neste dia em 1968 morreu o escritor John Steinbeck. Originário de uma família de classe baixa, Steinbeck testemunhou desde cedo a vida dos trabalhadores urbanos e rurais. Ingressou em 1919 na Universidade de Stanford e abandonou os estudos universitários em 1925, para seguir carreira literária. É autor de As vinhas da ira, A leste do paraíso e a pérola. Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1962.

segunda-feira, dezembro 19, 2005



William Turner morreu no dia 19 de Dezembro de 1851.




William Turner (1775-1851) é um dos nomes de referência da pintura inglesa do séc. XIX.
Os seus quadros transmitem uma emoção extrema e são considerados o ponto culminante do romantismo inglês, mas o interesse pela paisagem e pela temática de ar livre fizeram dele uma referência para os pintores de Barbizon.
Através de uma pincelada rápida, que irá influenciar os impressionistas franceses, Turner mostrou-se apaixonado pelos fenómenos atmosféricos, pelas nuvens e céus crepusculares e pelos efeitos subtis de uma luz difusa filtrada pela neblina.
A sua obra-prima é uma marinha com um pôr-de-sol resplandecente que representa um velho navio de guerra, "O Temerário".



Numa evocação repassada de nostalgia, que é realçada pelas tonalidades do crepúsculo, aquele veleiro de guerra, velho senhor dos mares, é conduzido ao ancoradouro, por um vulgar rebocador, para a destruição final.
Com William Turner a natureza deixa de ser interpretada objectivamente, à maneira clássica, passando a ser entendida como estado de alma, ou seja, dotada de sentimentos, na medida em que reflecte as emoções e os estados de espírito nela projectados pelo artista.
As paisagens rurais ou marítimas de Inglaterra foram a sua permanente fonte de inspiração, mas alguns trabalhos representam Veneza, a sua cidade preferida, pela feição muito peculiar da sua luz de tonalidades douradas.

Alfredo Saldanha



Edith Piaf nasceu a 19 de Dezembro de 1915.





sexta-feira, dezembro 16, 2005






O dia 16 de Dezembro de 1770 viu nascer um dos maiores génios da música clássica: Ludwig van Beethoven (1770-1827). Natural de Bona (Alemanha), foi um compositor do período de transição entre a era clássica e o período romântico e teve uma enorme influência na história da música.
O pai, que era tenor na corte, apercebeu-se muito cedo de que o pequeno Ludwig possuía um talento invulgar para a música e tratou de encaminhá-lo para essa arte. Dele recebeu Beethoven as primeiras noções de música e era tal o seu génio que, apenas com 11 anos de idade, já era autor de diversas composições.
Mais tarde, em Viena, onde se fixou a partir de 1789, teve Haydn como professor. A aprendizagem com o velho mestre não foi tão frutífera quanto se esperava. Haydn era afetuoso, mas um tanto descuidado, e Beethoven logo tratou de arranjar aulas com outros professores, para complementar o seu estudo.
Na década de 90 tinha já uma sólida reputação como pianista e compunha as suas primeiras obras-primas: Três Sonatas para piano, Concerto para Piano nº 1 e Sonata nº 8.
Em 1803 compõe a Sinfonia nº 3 (a Heróica), uma obra sem precedentes na história da música sinfónica, considerada como o início do período Romântico na Música Clássica. As sinfonias formam, aliás, a parte mais conhecida de sua obra, embora a veia de compositor se tivesse manifestado praticamente em todos os géneros musicais.
A partir de 1812, a surdez progressiva, aliada a problemas familiares, levaram-no a uma crise criativa que durou uma meia dúzia de anos. Depois voltou a compôr com um vigor renovado e criou obras geniais, entre as quais se conta a Sinfonia nº 9, para muitos a sua obra-prima. A “Nona”, como é simplesmente conhecida, foi a primeira sinfonia a utilizar a voz humana, que aparece no quarto andamento, com um coro e quatro solistas. Este andamento viria a ser escolhido como Hino da União Européia, pela síntese que faz dos ideais clássicos ligados ao Humanismo, à Fraternidade, Liberdade e Igualdade.
Beethoven faleceu em 26 de Março de 1827 quando estava a trabalhar numa décima Sinfonia. Conta-se que cerca de 10 mil pessoas compareceram ao seu funeral.


Alfredo Saldanha

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Oscar Niemeyer é um dos mais conceituados arquitectos de todo o mundo. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 15 de Dezembro de 1907. Formado na EscolaNacional de Belas Artes, iniciou a sua actividade no gabinete de arquitecturade Lúcio Costa.
Este foi escolhido, em 1937, para projectar o novo edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro. Para a realização do projecto Lúcio convidou vários arquitectos, entre os quais o franco-suíço Le Corbusier, o principal teórico do modernismo arquitectónico. Niemeyer, que fora escalado para ser o desenhista de Corbusier, durante sua estada no Rio, viria a tornar-se um dos seus mais importantes seguidores.
Em 1940, Juscelino Kubitschek, na época o prefeito de Belo Horizonte, convidou Niemeyer para projetar uma série de prédios em Pampulha, a zona norte da cidade. Este primeiro trabalho individual de Niemeyer, de que faz parte a famosa Igreja de S. Francisco de Assis, valeu-lhe projecção internacional e granjeou-lhe, simultaneamente, críticas e admiração.





O reconhecimento mundial do seu grande talento começou a manifestar-se em 1947, com o convite para projectar a sede das Nações Unidas, em Nova York e atingiu um dos momentos mais altos com a construção da nova capital do seu país, Brasília, a partir de 1956.
Em colaboração com Lúcio Costa, seu antigo patrão e grande amigo, responsável pelo plano de urbanização da cidade, Niemeyer projectou dezenas de edifícios residenciais, comerciais e administrativos. Entre eles a residência do Presidente (Palácio da Alvorada), o Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), os prédios dos ministérios e a sede do governo (Palácio do Planalto) e a Catedral (na figura)




Concluídos os trabalhos, Niemeyer foi nomeado coordenador da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Brasília. Em 1963 foi constituído membro honorário do Instituto Americano de Arquitectos dos Estados Unidos, e recebeuo Prémio Lenine, o prémio da paz soviético.
Niemeyer, que desde muito jovem mostrara viva simpatia pelos ideais da revolução soviética, era filiado no Partido Comunista Brasileiro. Por isso, durante os anos da Ditadura Militar de 1964, foi perseguido e impedido de trabalhar no seu país. Mudou-se então para Paris e iniciou uma nova fase da vida projectando obras como a sede do Partido Comunista Francês, a mesquita de Argel e, na Itália, o edifício da Editora Mondadori. Durante o exílio, visitou a União Soviética, teve encontros com diversos líderes socialistas e foi amigo pessoal de alguns deles. Recentemente, Fidel Castro terá dito a seu respeito: "Niemeyer e eu somos os últimos comunistas do planeta".
Regressado ao Brasil, projectou o Memorial Juscelino Kubitschek (1980), o Sambódromo do Rio (1984), o Panteão da Pátria de Brasília (1985) e o Memorial da América Latina (1987), em São Paulo, com uma escultura representando uma mão ferida, como um Cristo, de cuja chaga sangram a América Central e do Sul.
Em 1996, criou o que muitos consideram sua obra prima: o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em forma de cogumelo.
Aos 98 anos de idade, Óscar Niemeyer continua activo e envolvido em diversos projectos, principalmente reformas ou readaptações de antigas obras suas que, por serem consideradas Património da Humanidade pela Unesco, só ele pode realizar.

Alfredo Saldanha

quarta-feira, dezembro 14, 2005



No dia 14 de Dezembro de 1963 morria a cantora de jazz e blues Dinah Washington.

terça-feira, dezembro 13, 2005



Vassily Kandinsky (1866-1944) nasceu em Moscovo, onde estudou direito e economia, mas desistiu destas carreiras para se dedicar à arte. Rumou então a Paris onde se relacionou com os artistas de vanguarda.
Nos finais de 1911 encontrava-se em Munique onde, influenciado pela tendência do expressionismo moderno, fundou o grupo Der Blaue Reiter no qual também participaram Paul Klee, Franz Marc e August Macke.
O seu nome ficaria ligado à abstracção lírica, de que foi pioneiro. A sua primeira obra abstracta resultou de uma experiência fortuita, como ele próprio descreveu: "Um dia, ao entrar no estúdio, encontrei-me de repente perante uma tela de grande beleza. Parei, intrigado, a contemplá-la. Era um quadro sem tema, e apenas com manchas coloridas. Aproximei-me e verifiquei que era um quadro meu, posto de lado no cavalete... Uma coisa, então, se me tornou
evidente: que a objectividade e a descrição dos objectos não era necessária nas minhas pinturas e até as prejudicava".
Esta experiência, e também a influência que sobre ele exerceram as teorias de Worringer acerca da Abstracção e Intuição, contribuíram para fortalecer a sua ideia de que a arte não necessitava de um motivo figurativo e de que a cor podia constituir, só por si, um meio de expressão total.
Perante o desmoronar das certezas dos progressos científicos e a desconfiança em relação ao mundo material produzida pela descoberta do átomo e da Teoria da Relatividade de Einstein, o pintor russo apercebeu-se de que a pintura, desligada do seu carácter descritivo tradicional, se rege pelo “princípio da necessidade interior”, o verdadeiro motor da arte. Por outras palavras, a distribuição das formas e das cores realiza-se em função do estado de espírito do próprio artista, pelo que os quadros se convertem em expressões visíveis de um sentimento interior.
Desenvolveu esta teoria no livro Do Espiritual da Arte (1910), onde distingue três espécies de criação: as Impressões, que ainda contêm alguns aspectos de representação da realidade; as Improvisações, que pretendem reflectir emoções espontâneas, e em parte inconscientes, de carácter interior e as Composições, que são trabalhos lentamente elaborados, de um sentir espiritual.
Kandinsky procurou também formular uma teoria da harmonia de sonoridades das cores, convencido de que a distribuição dos tons no quadro devia obedecer a princípios de harmonia e contraste, como se fossem notas e acordes de uma sinfonia. Este interesse pela música é comprovado pela utilização de termos musicais em alguns títulos dos seus quadros.
Quando do advento da Revolução Soviética, Wassily volta à Rússia interessado nos rumos do país, mas desentende-se com as teorias da arte oficiais e retorna à Alemanha. Em constante contacto com os artistas de vanguarda, foi mestre na Bauhaus até ao seu encerramento em 1933. Mudou-se então para Paris onde viveu até ao fim da vida, em 13 de Dezembro de 1944.

Alfredo Saldanha




segunda-feira, dezembro 12, 2005


O pintor norueguês Edvard Münch (1863-1944) foi uma das personalidades mais influentes do Expressionismo, um movimento artístico que teve Van Gogh como percursor e que viria a desenvolver-se nos inícios do séc. XX.
Nascido em 12 de Dezembro de 1863, filho de um médico de aldeia, a quem acompanhava, ainda criança, nas visitas aos doentes, viu morrerem de tuberculose a mãe e a irmã mais velha. Tais infortúnios marcaram-no profundamente, pelo que as imagens do quarto do doente e do leito da morte se repetem constantemente na sua obra.
Foi essencialmente um autodidacta, apesar de ter frequentado a Escola Estatal de Artes e Ofícios e, mais tarde, em Paris, o estúdio de Bonnat. Na capital francesa conheceu o Impressionismo, mas o seu estilo foi essencialmente influenciado por uma temática simbolista, tratada em formas simplificadas que acentuam a expressividade da cena, a que se juntam o primado da cor dos "fauves" e a linha sinuosa da Arte Nova.
Pintor do sentimento trágico da vida, a generalidade da sua obra privilegia uma temática que exprime estados de alma intensamente subjectivos, frequentemente mórbidos e perturbantes, como o alcoolismo, a solidão, a angústia e ansiedade, a doença e a morte. "Exactamente como Leonardo estudava a anatomia humana, dissecando cadáveres, assim procuro dissecar as almas..." , escreveu a propósito.
Aquilo que acabamos de referir encontra-se perfeitamente documentado em duas das suas telas mais conhecidas: "Ansiedade" e "O Grito".






Em "Ansiedade" a angústia, o espanto, o vazio de alma, a solidão que alucina e enlouquece, encontram aqui uma representação inesquecível. Sob o ponto de vista
estilístico, é notório o forte colorido típico do Fauvisme e a linha sinuosa
da Arte Nova.



"O Grito", o seu quadro mais famoso, é inspirado num dramático pôr-do-sol a que o autor assistiu, num fiorde da sua terra, e que descreveu assim: "... caminhava eu por um atalho, com a cidade de um lado e o fiorde em baixo. Sentia-me cansado, doente... o sol punha-se e as nuvens tornavam-se num vermelho-sangue. Senti um grito passar pela natureza e pareceu-me ter ouvido esse grito... Pintei este quadro com as nuvens cor de sangue. A cor uivava..."
Retratou aquela figura aterrada suprimindo-lhe as feições e, transformando as águas e o céu num ameaçador emaranhado de ondas de cores vibrantes, conseguiu transmitir o sentimento de medo que experimentou naquela ocasião. As estranhas linhas de cor procuram exprimir a agitação e a emoção interiores. O quadro foi roubadp no dia 22 de Agosto de 2004 do Museu Munch, em Oslo, por homens mascarados que escaparam ilesos depois de ameaçarem um dos guardas do museu com uma arma. "O Grito" continua em parte incerta.

Alfredo Saldanha

sexta-feira, dezembro 09, 2005





A 9 de Dezembro de 1854 morreu em Lisboa Almeida Garrett, dramaturgo, poeta, romancista e político. Participou da revolução liberal de 1820 e exilou-se em Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. Foi lá que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo autores como Shakespeare e Walter Scott. Em 24 foi para França, onde escreveu Camões e Dona Branca, consideradas as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. Regressou à pátria em 26 depois de uma amnistia, mas com o regresso do Rei D. Miguel, foi obrigado a partir novamente para Ingaterra. Com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar fez parte do Desembarque do Mindelo, que trouxe D. Pedro de volta a Portugal. Com a vitória do liberalismo regressa e nos anos 30 e 40 distinguiu-se como um dos maiores oradores nacionais. Foi jornalista, deputado e ministro. Como político foi responsável pela fundação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspecção-Geral dos Teatros, do Panteão Nacional e do Teatro Nacional, procurando renovar a produção dramática portuguesa. Frei Luís de Sousa, por exemplo, foi considerada por um crítico alemão, a "obra mais brilhante que o teatro romântico produziu".
O último poema escrito por Almeida Garrett, a 3 de Agosto de 1853, foi encontrado no espólio existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e mostrado ao público pela primeira vez em 1999.

Eu disse a Deus: – Que importa,
Senhor, à tua glória
que sobre mim se feche a eterna porta
do túmulo, e não fique mais memória
deste verme de um dia na terra que o sumia?

Não foi teu braço forte
que do seio do nada
tirou a vida, e mandou logo a morte
para trazer eterno equilibrado
entre o ser e o não ser
nossa força e poder?

Escrito nas estrelas,
clamado pelos ventos,
bradado pelos mares nas procelas
no céu, na terra, em imortais acentos
Por toda parte está
o nome de Jeová.

Na imensa natureza
a voz do homem é nada.

Almeida Garrett

quinta-feira, dezembro 08, 2005



December, 8, 1943, Jim Morrison born, Melbourne, Florida.

quarta-feira, dezembro 07, 2005





7 de dezembro de 1941
Ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor, no Havai.

terça-feira, dezembro 06, 2005



1942- nasceu o escritor e dramaturgo austriaco Peter Handke.


segunda-feira, dezembro 05, 2005


Claude Monet (1840-1926) foi o grande impulsionador da pintura impressionista que se desenvolveu no último quartel do séc. XIX.
Nascido em Paris, passou uma parte da infância no Havre onde, mais tarde, se viria a encontrar com Boudin e Jongkind que o estimularam a trabalhar ao ar livre. Foi também influenciado pelo espírito da Escola de Barbizon, chegando a pintar em Fontainebleau. A sua educação artística passou ainda pelo atelier de Gleyre e pela livre Academie Suisse, onde os jovens artistas eram orientados sem estarem submetidos a qualquer regra.
Para escapar à Guerra Franco-Prussiana, que deflagrou em Julho de 1870, partiu para Londres, onde se encontrou com Sisley, Pissarro e Daubigny. A qualidade peculiar da luz londrina, brumosa e difusa, onde os contornos se diluem, viria a exercer nele um grande fascínio, pois correspondia, em pleno, às suas pesquisas. Deste modo, a estadia na capital inglesa viria a revelar-se decisiva para a evolução da sua arte e do próprio Impressionismo.
Regressado à pátria, fixou residência em Argenteuil, nas margens do Sena, perto de Paris, onde pintou na companhia de Pissarro, Renoir e outros artistas que fazim parte de uma tertúlia que habitualmente se reunia no Café Guerbois, da Av. Clichy, em Paris.
O assunto preferido das suas conversas era o repúdio da mitologia e das evocações do passado, a que opunham a necessidade de captar a atmosfera da vida moderna, mas a uni-los havia principalmente o desejo comum de combaterem a "arte académica", atacando, ao mesmo tempo, o retrógrado júri do Salão de Belas Artes que não aceitava as "novidades".
Em Abril de 1874, Monet e cerca de uma trintena destes artistas realizaram, no estúdio do fotógrafo Nadar, aquela que foi considerada a primeira exposição impressionista. Este evento rapidamente se tornou motivo de escárnio e chacota por parte dos críticos e amadores de arte. A própria designação (“impressionistas”), dada aos pintores ali representados, não era senão uma
piada do crítico de arte Louis Leroy, aproveitando o título de uma das obras expostas por Monet: "Impressão: Sol-nascente". Tratava-se de um quadro a óleo que representava o porto do Havre envolto na neblina matinal, donde emergia um sol alaranjado.




Monet desvalorizou as críticas e continuou a trabalhar com entusiasmo. Deu início, entretanto, às famosas "séries temáticas” como “A Catedral de Ruão”, e a "Gare de Saint - Lazare".




Na primeira, pintou a fachada da catedral, captando as variações de tom e luz em vários momentos do dia e, a segunda, é composta por sete interpretações daquela estação de caminho de ferro. Na altura, a indústria e os transportes tinham criado uma nova paisagem, mas o
combóio era considerado um tema vulgar e indigno de ser pintado. No entanto, o fumo da máquina a vapor, elemento fugaz por excelência, atraiu fortemente os impressionistas. A atmosfera enevoada pelos fumos, característica da primeira era industrial, tranformou-se em tema artístico e em símbolo de modernidade. Em 1883, o grande mestre do Impressionismo instalou-se em Giverny. A sua produção artística passou então por obras que tornaram famoso o jardim da casa onde vivia, em pinturas como a “Ponte Japonesa” e a famosa série
de “Nenúfares”.
Na fase final da vida começou a ter problemas de visão que se foram agravando e o limitaram, apesar de continuar a trabalhar com o entusiasmo que sempre o caracterizou.
Faleceu em 5 de Dezembro de 1926.

sexta-feira, dezembro 02, 2005



A 2 de Dezembro de 1944 morreu Tommaso Marinetti, autor do “Manifesto Futurista” publicado em 20 de Fevereiro de 1909, no jornal parisiense Le Fígaro.



O Futurismo foi um movimento de origem italiana que procurou construir uma nova estética, de acordo com a civilização industrial, urbana e de massas do início do séc. XX, envolvendo todos os planos da experiência: da arte à política, dos costumes à moral, baseando-se numa concepção da existência que remete, em certos aspectos, para o pensamento de Bergson e de Nietzche.
Orientando-se decididamente para o futuro, negava todo o passado e as tradições.
A primeira forma de expressão foi a literatura, especialmente a poesia, onde o útil, o prático ou os assuntos relacionados com o movimento e a velocidade acabaram por substituir os motivos tradicionais de inspiração lírica. Só depois se estendeu à pintura, escultura, arquitectura e até à música.
No manifesto acima referido, Marinetti afirmava a necessidade de libertar a Itália da "sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários" valorizando as "grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta..., a máquina vitoriosa..., as locomotivas e voo dos aeroplanos... e as vibrações nocturnas...". Mais especificamente anunciava o nascimento de uma "beleza nova", a "beleza da velocidade e da máquina", exaltando, por isso, a agitação, o movimento, o ritmo veloz da cidade e o dinamismo da era industrial.
Nutrindo uma admiração fervorosa pela vida moderna, propunha a aniquilação dos sinais do passado, a rejeição total do Academismo e de qualquer forma de tradição: "Que se destruam museus e bibliotecas... Um automóvel é mais belo que uma estátua grega... Um arranha-céus tem mais valor que a Catedral de Chartres...". Na sua rebelião contra os museus, que o século XIX tinha fundado e aberto ao público, expressa a ideia de que a arte colocada nesses locais é totalmente inútil.
Marinetti contou com o apoio incondicional de jovens artistas italianos como Boccioni, Carrà, Balla, Severini e Sant'Elia. Também eles, cheios de entusiasmo revolucionário, redigiram os seus próprios manifestos que viriam a lançar as bases da arte futurista.
O verdadeiro desafio para os futuristas foi encontrar um estilo que não tivesse nada em comum com as formas de arte tradicionais. A maior parte dos seus quadros apresentam planos fragmentados e cores expandidas, nos quais as formas se repetem, amontoando-se umas sobre as outras, para transmitir uma sensação de movimento contínuo.
Marinetti defendeu a intervenção italiana na 1ª Guerra Mundial. Em 1924 tornou-se activo militante fascista, chegando a afirmar que essa ideologia representava uma extensão natural das ideias futuristas.

Alfredo Saldanha

quinta-feira, dezembro 01, 2005


A 1 de dezembro de 1455 morreu Lorenzo Ghiberti

Escultor do Quattrocento italiano, Lorenzo Ghiberti (1378-1455) nasceu em Pelago, Itália, por volta de 1378. Formado na oficina do ourives florentino Bartolo di Michele, abandonou Florença para trabalhar em Pesaro, como pintor de Sigismondo Malatesta. Regressou, entretanto, à cidade dos Médicis para se candidatar à execução de duas portas para o Batistério San Giovanni que se encontra defronte da Catedral de Santa Maria dei Fiore. Tinha na altura pouco mais de 20 anos, mas acabou por ser o escolhido num grupo de sete artistas, entre os quais se contavam escultores famosos como Donatello, Jacopo della Quercia e Brunelleschi.
A mais famosa destas obras ficou conhecida por Porta do Paraíso.





Trata-se de uma porta em bronze dourado, dividida em dez painéis quadrangulares onde estão gravados, em baixo-relevo, vários temas bíblicos como o Sacrifício de Isaac,
David e Golias, Salomão e a Rainha de Sabá, a história de Isaú e Jacob, etc. Alguns destes quadros documentam diferentes acontecimentos em simultâneo, de maneira a desenvolver uma história.





As figuras apresentam um realismo e um rigor anatómico surpreendentes, mas é também notável a elaboração dos fundos das dez composições. Os elementos arquitectónicos são desenhados em perspectiva e, quando não existem, o autor serve-se das rochas, árvores e arbustos para aumentar o efeito pictórico. As bandas em volta dos painéis e os umbrais estão gravados com grinaldas de flores toscanas, esquilos, pássaros e outros animais cheios de vivacidade. Algumas das folhas parecem moldadas ao natural, tal é a riqueza de pormenores, ilustrando de forma clara a valorização da Natureza, um dos aspectos mais típicos do Renascimento.
Ghiberti, que demorou cerca de um quarto de século a executar esta obra, escreveu nos seus “Comentários” que se esforçou por “imitar a Natureza até ao extremo”. E diz, a propósito dos painéis: “Observando as leis da óptica, cheguei a dar-lhes tal aparência da realidade que, às vezes, vistas as figuras de longe, parecem de vulto redondo. Considerando os diferentes planos, fiz maiores as figuras mais próximas, enquanto as mais distantes diminuem de tamanho à vista, tal como sucede com a observação do natural” . Ao referir-se a esta porta Miguel Ângelo fez o seguinte comentário: “Elle son tanto belle che starebben alle porte del Paradiso...”.

Alfredo Saldanha