sexta-feira, dezembro 09, 2005





A 9 de Dezembro de 1854 morreu em Lisboa Almeida Garrett, dramaturgo, poeta, romancista e político. Participou da revolução liberal de 1820 e exilou-se em Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. Foi lá que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo autores como Shakespeare e Walter Scott. Em 24 foi para França, onde escreveu Camões e Dona Branca, consideradas as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. Regressou à pátria em 26 depois de uma amnistia, mas com o regresso do Rei D. Miguel, foi obrigado a partir novamente para Ingaterra. Com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar fez parte do Desembarque do Mindelo, que trouxe D. Pedro de volta a Portugal. Com a vitória do liberalismo regressa e nos anos 30 e 40 distinguiu-se como um dos maiores oradores nacionais. Foi jornalista, deputado e ministro. Como político foi responsável pela fundação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspecção-Geral dos Teatros, do Panteão Nacional e do Teatro Nacional, procurando renovar a produção dramática portuguesa. Frei Luís de Sousa, por exemplo, foi considerada por um crítico alemão, a "obra mais brilhante que o teatro romântico produziu".
O último poema escrito por Almeida Garrett, a 3 de Agosto de 1853, foi encontrado no espólio existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e mostrado ao público pela primeira vez em 1999.

Eu disse a Deus: – Que importa,
Senhor, à tua glória
que sobre mim se feche a eterna porta
do túmulo, e não fique mais memória
deste verme de um dia na terra que o sumia?

Não foi teu braço forte
que do seio do nada
tirou a vida, e mandou logo a morte
para trazer eterno equilibrado
entre o ser e o não ser
nossa força e poder?

Escrito nas estrelas,
clamado pelos ventos,
bradado pelos mares nas procelas
no céu, na terra, em imortais acentos
Por toda parte está
o nome de Jeová.

Na imensa natureza
a voz do homem é nada.

Almeida Garrett