segunda-feira, outubro 31, 2005





O Dia das Bruxas ou Halloween é uma festa típica da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá que acontece, cada ano, no dia 31 de Outubro. A palavra "Halloween" teve origem numa contracção abusiva da expressão "All Hallows Eve" que significa "Dia de Todos os Santos", comemorado pela Igreja Católica a 1 de Novembro. A esta celebração misturaram-se antigas tradições célticas originárias da Irlanda segundo as quais, no último dia de Outubro, todas as bruxas, demónios e espíritos dos mortos se reuniriam para uma grande festa. Com o decorrer dos tempos, o temor associado esta celebração foi sendo esquecido e ela transformou-se numa brincadeira para as crianças. A tradição foi levada para os Estados Unidos por imigrantes irlandeses e popularizou-se no final do século XIX. À noite, crianças e adolescentes, vestidos com fantasias de fantasmas, bruxas, múmias, dráculas, duendes, gnomos, e outras criaturas do imaginário fantástico passaram a sair à rua, transportando abóboras iluminadas com velas. O ritual continuou sempre o mesmo: ir de porta em porta, provocando sustos e pedindo guloseimas aos moradores. Em Portugal, a festa também já vai entrando para o calendário, mas a nossa tradição das bruxarias continua mais ligada a uma crendice popular ancestral que considera embruxada e especialmente azarenta a junção, no calendário, de uma sexta-feira com o dia 13 do mês. Quando tal acontece, celebram-se em Montalegre, desde há alguns nos, "Noitadas de feitiçarias". Das celebrações fazem parte a cerimónia da Reza de Esconjuro, a Queimada, de sabor medieval, a Ladaínha recitada pelo Padre Fontes de Vilar de
Perdizes, o Baile das Bruxas e uma jantarada mais ou menos exótica. Nessa noite, a ementa dos restaurantes locais é composta, quase invariavelmente, por Presunto Fumado nas Lareiras do Inferno, Pão que o Diabo Amassou, Caldo de Urtigas, Vitela do Barroso acompanhada com Arroz de Feitiço e Batatas com Murro de Bruxa. À sobremesa podem provar-se Rabanadas com Molho de Bruxa Picadeira, Borra Negra e Levanta o Pau do Diabo.


Alfredo Saldanha

sexta-feira, outubro 28, 2005




A 28 de Outubro de 1909 nasceu em Dublin, na Irlanda,
o pintor Francis Bacon

quinta-feira, outubro 27, 2005



Desiderius Erasmus Roterodamus, conhecido como Erasmo de Roterdão, foi um dos mais importantes humanistas europeus. Homem culto e cosmopolita, aperfeiçoou o conhecimento do latim e dos escritores da Antiguidade, adquirindo ampla erudição e manteve correspondência com os principais génios da sua época como John Colet, Thomas More, Thomas Linacre e Damião de Góis. Em Inglaterra, hóspede do humanista Thomas More, escreveu a sua obra mais importante, o "Elogio da Loucura", de linha reformista, que é uma crítica à sociedade da época, incluindo a Igreja Católica. Embora cristão, censura a hierarquia dessa instituição que faz demasiadas cerimónias e complicados rituais e até declara guerras, quando o mandamento de Cristo é apenas a prática da caridade. Insurge-se contra as preocupações materialistas do Papa, Bispos e Clérigos e defende um retorno à simplicidade do Evangelho e das primitivas comunidades cristãs.Martinho Lutero tirou partido destas ideias na sua revolta contra o Papa, aquando da Questão das Indulgências, mas, apesar das críticas, Erasmo não aderiu ao Protestantismo e permaneceu ligado à Igreja Católica. No livro "De Libero Arbitrio" chegou mesmo a atacar algumas doutrinas e os excessos dos reformistas. Grandes nomes da era clássica e dos Padres da Igreja foram traduzidos, editados ou comentados por Erasmo, incluindo Santo Ambrósio de Milão, Aristóteles, Cícero, São Basílio, São João Crisóstomo e Santo Agostinho. A popularidade estraordinária dos seus livros fica patente no grande número de edições e traduções que surgiram desde o século XVI, e no interesse permanente que a sua personalidade suscita ainda nos meios cultos de todo o mundo.


Alfredo Saldanha

quarta-feira, outubro 26, 2005


Anton Tchekov

A 26 de Outubro de 1899 estreou-se em Moscovo, no Teatro de Arte, “O Tio Vânia” de Anton Tchekov, numa encenação de Stanislavski e Dantchenko.
Tchekov escreveu mais de 500 contos e distinguiu-se na dramaturgia pela habilidade na criação um teatro dos “estados de alma”. Com “A Gaivota”, escrita em 1896, inaugurou uma série de dramas sobre a vida quotidiana, tal como ela é, pondo a nu as almas retalhadas dos personagens que vivem uma rotina destrutiva e entediante, na Rússia do século XIX. O Tio Vânia insere-se nesta série de cenas da vida do campo, onde os personagens deambulam numa casa de família, e vivem relações de conflito, encontrando-se e desencontrando-se. Nesta peça Tckekov parte da relação entre Sónia e o seu Tio Vânia para explorar a relação entre os outros personagens.

Além das relações intimas e de conflito entre os personagens, no Tio Vânia, Tckekov explora através de Astrov, o médico, a questão da degradação florestal e a necessidade de impedir que ela continue. Encontramos aqui um elemento fundamental na contemporaneidade do texto.

Virgínia Woolf considerava Anton Tchekov como um subtil analítico das relações humanas. As suas "histórias sobre quase-nada", estendem o nosso horizonte, e permitem-nos alcançar um espantoso sentido de liberdade.

terça-feira, outubro 25, 2005


Pablo Picasso nasceu em Málaga a 25 de Outubro de 1881.

segunda-feira, outubro 24, 2005





No início do séc. XX a Rússia era governada por um monarca absoluto. País essencialmente rural, vivia num regime de carácter feudal com a maioria da população submetida a uma aristocracia fundiária minoritária detentora das terras. A necessidade de reformas tornara-se uma aspiração geral e os sectores burgueses defendiam a instauração de um regime liberal. A participação da Rússia na 1ª Guerra Mundial veio agravar a situação e a contestação ao Czar Nicolau II subiu de tom. Foi neste contexto que, em Fevereiro de 1917, surgiu, em S. Petersburgo, um levantamento popular que conduziria à queda do czarismo e à implantação da República. Instaurou-se então um regime liberal burguês imediatamente contestado pelos sectores mais revolucionários do proletariado liderados por Lenine. As suas "Teses de Abril" apelavam à retirada imediata da guerra, ao derrube do governo burguês, à confiscação das grandes propriedades e à entrega do poder aos sovietes (conselhos de camponeses, soldados e operários). As suas ideias vieram a concretizar-se em 24 e 25 de Outubro desse ano de 1917 quando, em S. Peterburgo, os Guardas Vermelhos bolcheviques tomaram o controle dos pontos
estratégicos da cidade, assaltaram o Palácio de Inverno e derrubaram o Governo Provisório.
A 26 de Outubro, o Conselho dos Sovietes elegeu um novo governo: o Conselho dos Comissários do Povo, com Lenine na presidência, Trotsky no ministério da Guerra e Estaline no das Nacionalidades. Estava em marcha o movimento comunista soviético, que dominaria grande parte do séc. XX.

Alfredo Saldanha

sexta-feira, outubro 21, 2005




Alfred Bernhard Nobel nasceu na Suécia em 21 de Outubro de 1833 e tornou-se mundialmente conhecido ao criar os prémios Nobel. Estudou em São Petersburgo, na Rússia, o pai trabalhava numa oficina de explosivos para o exército russo. Viajou depois pelos Estados Unidos e por diversos países europeus. Foi em Paris que conheceu Ascanio Sobrero, inventor da nitroglicerina. No regresso à Suécia, procurou tornar este produto mais manipulável, juntando-lhe vários compostos, e criou a dinamite, um explosivo sólido, feito de plástico e relativamente seguro contra choques físicos e de temperatura. Esta invenção veio facilitar os trabalhos de grandes obras de engenharia como túneis e canais, mas foi igualmente aplicada na guerra causando inúmeras mortes e destruições. Este facto contribuiu, de forma decisiva, para a ideia de criar uma fundação com o seu nome que promovesse o bem-estar da Humanidade. Pouco antes de morrer, em Dezembro de 1896, Nobel redigiu um testamento onde estipulava os célebres prémios monetários destinados a galardoar as personalidades que, anualmente, mais se distinguissem nas áreas da Química, Física, Medicina, Literatura (a atribuir por especialistas suecos) e da Paz (atribuído por uma comissão do parlamento norueguês). O Nobel da Economia, financiado pelo Banco da Suécia, apenas seria criado em 1969. (Alfredo Saldanha)



Jack Kerouac, uma das principais figuras da Beat Generation, morreu a 21 de Outubro de 1969. Aqui fica Abraham, kack Kerouac e Steve Allen.



A 21 de Outubro de 2003 morreu Elliot Smith.

quinta-feira, outubro 20, 2005


Jean Arthur RIMBAUD nasceu em 20 de Outubro de 1854. Poeta maldito, deixou uma obra significativa que influenciou gerações de escritores.



quarta-feira, outubro 19, 2005





A 19 de Outubro de 1987 morreu a violoncelista inglesa Jacqueline Du Pré.

terça-feira, outubro 18, 2005




Heinrich von Kleist nasceu em 1777.





Henri Bergson nasceu em 1859.

segunda-feira, outubro 17, 2005



Georg Büchner was born on 17 October 1813
at Goddelau near Darmstadt, Germany.



“se há uma solução para este nosso tempo, ela é a da violência. Sabemos o que podemos esperar dos nossos príncipes. Todas as concessões que fizeram foram-lhes arrancadas pela necessidade. Acusam-se os jovens de fazerem uso da violência. Mas não nos encontramos nós num permanente estado de violência? Estamos num buraco, agrilhoados de pés e mãos e com uma mordaça na boca. A que coisa chamam vocês legalidade? A uma lei que faz da grande massa dos cidadãos um rebanho escravizado, para satisfazer as necessidades desnaturadas de uma minoria insignificante e corrupta? E essa lei, apoiada na força bruta dos militares e na esperteza saloia dos seus agentes, essa lei é uma violência brutal e perpétua que se faz ao direito e à razão, e eu combatê-la-ei sempre que puder, por palavras e actos.” (carta à família em 1933)

sexta-feira, outubro 14, 2005


Self-Portrait, Oil Painting. Cummings in the 1950s


Edward Estlin Cummings (October 14, 1894 – September 3, 1962), typically abbreviated E. E. Cummings, was an American poet, painter, essayist, and playwright. Though a representation not endorsed by him, his publishers often mirrored his atypical syntax by writing his name in lowercase,

BUFFALO Bill 's
defunct
who used to
ride a watersmooth-silver
stallion
and break onetwothreefourfive pigeonsjustlikethat

Jesus
he was a handsome man
and what i want to know is
how do you like your blueeyed boy
Mister Death

e. e. cummings


quinta-feira, outubro 13, 2005




A 13 de Outubro de 1962 estreou-se ma Broadway a peça 'Who's Afraid of Virginia Woolf?'. Considerado um dos pilares do teatro moderno norte-americano, este texto de Edward Albee, fala do conflito nas relações conjugais, pondo a nu as ilusões e as mentiras que fazem a vida de Martha e George, um casal em ruptura, num ambiente de tensão, suspense e violência.

terça-feira, outubro 11, 2005




Edith Piaf died on 11 October 1963


segunda-feira, outubro 10, 2005

Harold Pinter





Born 10 October 1930 in East London
Playwright, director, actor, poet and political activist.

sexta-feira, outubro 07, 2005



A Máscara da Morte Escarlate
Edgar Allan Poe


A Morte Escarlate havia muito devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era sua revelação e sua marca a cor vermelha e o horror do sangue. Surgia com dores agudas e súbita tontura, seguidas de profuso sangramento pelos poros, e então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E entre o aparecimento, a evolução e o fim da doença não se passava mais de meia hora.
Mas o príncipe Próspero era feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos dentre os cavalheiros e damas da corte e com eles retirou-se, em total reclusão, para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e magnífica, criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a a muralha forte e muito alta, com portas de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos. Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos de desespero do que estavam fora ou aos furores do que estavam dentro. O mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse meio-tempo era tolice atormentar-se ou pensar nisso. O príncipe havia providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, improvisadores, dançarinos, músicos, Beleza, vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá fora, a "Morte Escarlate".
Lá pelo final do quinto ou sexto mês de reclusão, enquanto a peste grassava mais furiosamente lá fora, o príncipe Próspero brindou os mil amigos com um magnífico baile de máscaras.
Era um espetáculo voluptuoso, aquela mascarada. Mas antes vou descrever onde ela aconteceu. Eram sete um suíte imperial. Em muitos palácios, porém, essas suítes formam uma perspectiva longa e reta, quando as portas se abrem até se encostarem nas paredes de ambos os lados, de tal modo que a vista de toda essa sucessão é quase desimpedida. Ali, a situação era muito diferente, como se devia esperar da paixão do duque pelo fantástico. Os salões estavam dispostos de maneira tão irregular que os olhos só podiam abarcar pouco mais de cada um por vez. Havia um desvio abrupto a cada vinte ou trinta metros e, a cada desvio, um efeito novo. À direita e à esquerda, no meio de cada parede, uma alta e estreita janela gótica dava para um corredor fechado que acompanhava as curvas da suíte. A cor dos vitrais dessas janelas variava de acordo com a tonalidade dominante na decoração do salão para o qual se abriam. O da extremidade leste, por exemplo, era azul e de um azul intenso eram suas janelas. No segundo salão os ornamentos e tapeçarias, assim como as vidraças, eram cor de púrpura. O Terceiro era inteiramente verde, e verdes também os caixilhos das janelas. O quarto estava mobiliado e iluminado com cor alaranjada o quinto era branco, e o sexto, roxo. O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. AS vidraças, ali, eram escarlates uma violenta cor de sangue.
Ora, em nenhum dos sete salões havia qualquer lâmpada ou candelabro, em meio à profusão de ornamentos de ouro espalhados por todos os cantos ou dependurados do teto. Nenhuma lâmpada ou vela iluminava o interior da seqüência de salões. Mas nos corredores que circundavam a suíte havia, diante de cada janela, um pesado tripé com um braseiro, que projetava seus raios pelos vitrais coloridos e, assim, iluminava brilhantemente a sala, produzindo grande número de efeitos vistosos e fantásticos. Mas no salão oeste, ou negro, o efeito do clarão de luz que jorrava sobre as cortinas escuras através das vidraças da cor do sangue era desagradável ao extremo e produzia uma expressão tão desvairada no semblante do que entravam que poucos no grupo sentiam ousadia bastante para ali penetrar.
Era também nesse apartamento que se achava, encostado à parede oeste, um gigantesco relógio de ébano. Seu pêndulo oscilava de um lado para o outro com um bater surdo, pesado, monótono; quando o ponteiro dos minutos completava o circuito do mostrador e o relógio ia dar as horas, de seus pulmões de bronze brotava um som claro e alto e grave e extremamente musical, mas em tom tão enfático e peculiar que, ao final de cada hora, os músicos da orquestra se viam obrigados a interromper momentaneamente a apresentação para escutar-lhe o som; com isso os dançarinos forçosamente tinham de parar as evoluções da valsa e, por um breve instante, todo o alegre grupo mostrava-se perturbado; enquanto ainda soavam os carrilhões do relógio, observava-se que os mais frívolos empalideciam e os mais velhos e serenos passavam a mão pela teste, como se estivessem num confuso devaneio ou meditação. Mas, assim que os ecos desapareciam interiormente, risinhos levianos logo se riam do próprio nervosismo e insensatez e, em sussurros, diziam uns aos outros que o próximo soar de horas não produziria neles a mesma emoção; mas, após um lapso de sessenta minutos (que abrangem três mil e seiscentos segundos do Tempo que voa), quando o relógio dava novamente as horas, acontecia a mesma perturbação e idênticos tremores e gestos de meditação de antes.
Apesar disso tudo, que festa alegre e magnífica! Os gosto do duque eram estranhos. Sabia combinar cores e efeitos. Menosprezando a mera decoração da moda, seus arranjos mostravam-se ousados e veementes, e suas idéias brilhavam com um esplendor bárbaro. Alguns podiam considerá-lo louco, sendo desmentidos por seus seguidores. Mas era preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo para convencer-se disso.
Para essa grande festa, ele próprio dirigiu, em grande parte, a ornamentação cambiante dos sete salões, e foi seu próprio gosto que inspirou as fantasias dos foliões. Claro que eram grotescas. Havia muito brilho, resplendor, malícia e fantasia muito daquilo que foi visto depois no Hernani. Havia figuras fantásticas com membros e adornos que não combinavam. Havia caprichos delirantes como se tivessem sido modelados por um louco. Havia muito de beleza, muito de libertinagem e de extravagância, algo de terrível e um tanto daquilo que poderia despertar repulsa. De um ao outro, pelos sete salões, desfilava majestosamente, na verdade, uma multidão de sonhos. E eles os sonhos giravam sem parar, assumindo a cor de cada salão e fazendo com que a impetuosa música da orquestra parecesse o eco de seus passos. Daí a pouco soa o relógio de ébano colocado no salão de veludo. Então, por um momento, tudo se imobiliza e é tudo silêncio, menos a voz do relógio. Os sonhos se congelam como estão. Mas os ecos das batidas extinguem-se duraram apenas um instante e risos levianos, mal reprimidos, flutuam atrás dos ecos, à medida que vão morrendo. E logo a música cresce de novo, e os sonhos revivem e rodopiam mais alegremente que nunca, assumindo as cores das muitas janelas multicoloridas, através das quais fluem os raios luminosos dos tripés. Ao salão que fica a mais oeste de todos os sete, porém, nenhum dos mascarados se aventura agora; pois a noite está se aproximando do fim: ali flui uma luz mais vermelha pelos vitrais cor de sangue e o negror das cortinas escuras apavora; para aquele que pousa o pé no tapete negro, do relógio de ébano ali perto chega um clangor ensurdecido mais solene e enfático que aquele que atinge os ouvidos dos que se entregam às alegrias nos salões mais afastados.
Mas nesses outros salões cheios de gente batia febril o coração da vida. E o festim continuou em remoinhos até que, afinal, começou a soar meia-noite no relógio. Então a música cessou, como contei, as evoluções dos dançarinos se aquietaram, e, como antes, tudo ficou intranqüilamente imobilizado. Mas agora iriam ser doze as badaladas do relógio; e desse modo mais pensamentos talvez tenham se infiltrado, por mais tempo, nas meditações dos mais pensativos, entre aqueles que se divertiam. E assim também aconteceu, talvez, que, antes de os últimos ecos da última badalada terem mergulhado inteiramente no silêncio, muitos indivíduos na multidão puderam perceber a presença de uma figura mascarada que antes não chamara a atenção de ninguém. E, ao se espalhar em sussurros o rumor dessa nova presença, elevou-se aos poucos de todo o grupo um zumbido ou murmúrio que expressava a reprovação e surpresa e, finalmente, terror, horror e repulsa.
Numa reunião de fantasmas como esta que pintei, pode-se muito bem supor que nenhuma aparência comum poderia causar tal sensação. Na verdade, a liberdade da mascarada dessa noite era praticamente ilimitada; mas a figura em questão ultrapassava o próprio Herodes, indo além dos limites até do indefinido decoro do príncipe. Existem cordas, nos corações dos mais indiferentes, que não podem ser tocadas sem emoção. Até para os totalmente insensíveis, para quem a vida e morte são alvo de igual gracejo, existem assuntos com os quais não se pode brincar. Na verdade, todo o grupo parecia agora sentir profundamente que na fantasia e no rosto do estranho não existia graça nem decoro. A figura era alta e esquálida, envolta do pés a cabeça em veste mortuárias. A máscara que escondia o rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais atento teria dificuldade em descobrir o engano. Tudo isso poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos participantes da festa, se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte Escarlate. Seu vestuário estava borrifado de sangue e sua alta testa, assim como o restante do rosto, salpicada com o horror escarlate.
Quando os olhos do príncipe Próspero pousaram nessa imagem espectral (que andava entre os convivas com movimentos lentos e solenes, como se quisesse manter-se à altura do papel), todos perceberam que ele foi assaltado por um forte estremecimento de terror ou repulsa, num primeiro momento, mas logo o seu semblante tornou-se vermelho de raiva.
- Quem ousa... perguntou com voz rouca aos convivas que estavam perto quem ousa nos insultar com essa caçoada blasfema? Peguem esse homem e tirem sua máscara, para sabermos quem será enforcado no alto dos muros, ao amanhecer!
O príncipe Próspero estava na sala leste, ou azul, ao dizer essas palavras. Elas ressoaram pelos sete salões, altas e claras, pois o príncipe era um homem ousado e robusto e a música se calara com um sinal de sua mão.
O príncipe achava-se no salão azul com um grupo de pálidos convivas ao seu lado. Assim que falou, houve um ligeiro movimento dessas pessoas na direção do intruso, que, naquele momento, estava bem ao alcance das mãos, e agora, com passos decididos e firmes, se aproximava do homem que tinha falado. Mas por causa de um certo temor sem nome, que a louca arrogância do mascarado havia inspirado em toda a multidão, não houve ninguém que estendesse a mão para detê-lo; de forma que, desimpedido , passou a um metro do príncipe e, enquanto a vasta multidão, como por um único impulso, se retraía do centro das salas para as paredes, ele continuou seu caminho sem deter-se, no mesmo passo solene e medido que o distinguira desde o inicio, passando do salão azul para o púrpura do púrpura para o verde do verde para o alaranjado e desse ainda para o branco e daí para o roxo, antes que se fizesse qualquer movimento decisivo para dete-lo. Foi então que o príncipe Próspero, louco de raiva e vergonha por sua momentânea covardia, correu apressadamente pelos seis salões, sem que ninguém o seguisse por causa do terror mortal que tomara conta de todos. Segurando bem alto um punhal desembainhado, aproximou-se, impetuosamente, até cerca de um metro do vulto que se afastava, quando este, ao atingir a extremidade do salão de veludo, virou-se subitamente e enfrentou seu perseguidor. Ouviu-se um grito agudo e o punhal caiu cintilando no tapete negro, sobre o qual, no instante seguinte, tombou prostrado de morte o príncipe Próspero. Então, reunindo a coragem selvagem do desespero, um bando de convivas lançou-se imediatamente no apartamento negro e, agarrando o mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e imóvel à sombra do relógio de ébano, soltou um grito de pavor indescritível, ao descobrir que, sob a mortalha e a máscara cadavérica, que agarravam com tamanha violência e grosseria, não havia qualquer forma palpável.
E então reconheceu-se a presença da Morte Escarlate. Viera como um ladrão na noite. E um a um foram caindo os foliões pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou no chão. E a vida do relógio de Ébano dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros extinguiram-se. E o domínio ilimitado das Trevas, da Podridão e da Morte Escarlate estendeu-se sobre tudo.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Le Corbusier nasceu a 6 de Outubro de 1887. Famoso arquitecto de nacionalidade suiça viria a tornar-se, a partir dos anos 20 do século XX, um dos maiores expoentes do modernismo arquitectónico. Defendeu uma estética puramente funcionalista, segundo a qual uma casa deve ser pensada como "uma máquina de habitar". Com este objectivo criou a estrutura de tipo "dominó" assente em pilares, com o terraço-jardim a substituir os telhados, sem divisões interiores, de modo a possibilitar ao proprietário uma organização do espaço personalizada.




O edifício mais fiel a estes princípios é a Casa Sabóia, uma vivenda construída nos arredores de Paris. Preocupou-se igualmente com a resolução dos problemas urbanísticos, ou seja, a inserção dos edifícios no tecido urbano. Nesse sentido, participou activamente nos Congressos Internacionais dos Arquitectos Modernos e foi signatário e redactor da "Carta de Atenas". Este documento tornou-se uma referência fundamental na reflexão urbanística moderna. Os seus princípios programáticos são a construção em altura, a abertura de grandes vias para a circulação automóvel, o isolamento das áreas históricas e a divisão do tecido urbano em quatro zonas diferenciadas: circulação, habitação, trabalho e lazer.
As qualidades inventivas de Le Corbusier estão ainda ligadas à estética brutalista que consiste na utilização do betão bruto, tal como sai das cofragens, e dos materiais de texturas toscas, como o ladrilho, a alvenaria ou o granito sem polimento. Entre os exemplares mais significativos do brutalismo contam-se a Igreja de Ronchamp, nas proximidades de Basileia e o Ministério da Educação e da Saúde, no Rio de Janeiro, projectado em colaboração com Óscar Niemeyer. Ao contrastar com a arquitectura americana, toda de vidro e aço, a estética brutalista foi não só uma linguagem original europeia, mas também um reflexo defensivo contra o colonialismo cultural da américa do norte. A herança "estilística" da mensagem de Le Corbusier permaneceu até aos nossos dias. Quem analisar hoje a importância das influências por ele exercidas sobre a arquitectura, é obrigado a reconhecer que nenhum outro mestre do movimento moderno encontrou tantos seguidores: a sua lição foi ouvida e quase idolatrada por gerações de arquitectos de todo o mundo.


Alfredo Saldanha

quarta-feira, outubro 05, 2005



No dia 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a implantação da Republica Portuguesa.



A 5 de Outubro de 1713 nasceu Denis Diderot, um dos nomes mais importantes do Iluminismo Francês.

terça-feira, outubro 04, 2005


No dia 4 de Outubro de 1669 morreu Rembrandt, um dos maiores pintores dos Países Baixos do séc. XVII. Começou a dedicar-se à pintura muito cedo, ganhando rapidamente fama como retratista dos burgueses de Amesterdão. Nestas obras é bem patente a influência do pintor italiano Caravaggio quer pela luz rasante, incidindo lateralmente, que dramatiza cada ruga do rosto, quer pela técnica da definição do espaço através dos efeitos luminosos. A tela que prendeu definitivamente a atenção dos contemporâneos foi "Lição de Anatomia".



O seu casamento com Saskia, a filha de um burgomestre, garantiu-lhe ascensão financeira e social, atingindo, a um tempo, fama, fortuna, talento e prosperidade. Mas foi a partir daí que começou um longo e angustiante declínio. A morte de três filhos e mais tarde da mãe, dos irmãos e da própria esposa abalaram-no profundamente. Entretanto, o quadro "A Ronda Nocturna", não foi aceite pelo cliente que o encomendou, por estar fora das expectativas do retratado e Rembrandt começou a ser acusado pelos círculos sociais de não pintar o que lhe era pedido. A partir daí o declínio acentuou-se com processos e acções judiciais que lhe delapidaram o património e o lançaram numa crise profunda. Na etapa final da vida evoluiu para um estilo introspectivo, de carácter intimista, que se manifestou na grande paixão pelo retrato psicológico, em verdadeiras obras-primas de penetração e compreensão subjectiva da figura humana. Pintou igualmente inúmeros auto-retratos que documentam a própria história pessoal e como ela foi evoluindo ao longo da vida.

Alfredo Saldanha


A 4 de Ourubro de 1895 nasceu Buster Keaton, um dos grandes nomes do filme mudo americano do século XX. Realizador e actor, centrou a sua carreira nos filmes cómicos, e a sua originalidade e inovação contribuíram em grande parte para o desenvolvimento da arte do cinema.





Neste dia em 1970 morria Janis Joplin.








segunda-feira, outubro 03, 2005



Pierre Bonnard nasceu a 3 de Outubro de 1867. Foi um dos marcos essenciais da pintura francesa dos finais do séc. XIX e inícios de XX. Os críticos de arte consideram mesmo que ele faz a ponte entre o Impressionismo e a arte abstracta. Frequentou a Escola de Belas Artes de Paris e entrou depois para a Academie Julian, onde encontrou Edouard Vuillard, Maurice Denis, Serusier e Paul Ranson, que viriam a formar o grupo dos Nabis ("Profetas" em hebraico).Este grupo, que evoluiu do Impressionismo para o Simbolismo, passou a reunir-se num estúdio alugado por Bonnard em Montparnasse. Aí aparecia também com frequência Paul Gauguin, o qual viria a influenciar decididamente os companheiros na adopção das cores vivas aplicadas em camadas uniformes e contornos fortes, aspectos que viriam a caracterizar os ideais da Escola de Pont-Aven. Nas décadas de 80 e 90 os trabalhos de Bonnard foram claramente guiados por estes princípios, mas sofreu igualmente a influência do "Japonismo" então em moda nos meios de vanguarda parisienses. O seu interesse pelas normas de composição das gravuras japonesas fizeram mesmo com que o apelidassem de "le nabi japonais".A sua actividade artística esteve também ligada à Revue Blanche, publicação que foi o grande meio de divulgação da arte de vanguarda e na qual colaborou com muitas ilustrações entre 1889 e 1903. Nos finais do séc. XIX o grupo dos Nabis dispersou-se e o trabalho de Bonnard sofreu uma apreciável mudança. Começou, então, a utilizar tintas mais espessas, uma gama de coloridos mais fortes e brilhantes, enquanto dava mais relevo às formas. No entanto, e ao contrário das obras contemporâneas dos Fauves, as suas telas continuaram a revelar uma grande subtileza e suave harmonia. "Nu ao Espelho" é um dos muitos nus pintados nessa época. A figura é tratada em função da luz, banhando-a com uma cascata de cores, mas trata-se de um colorido velado por uma suavidade intencional pois, como afirmava, "a cor precisa de mais raciocínios que o desenho".Faleceu em 23 de Janeiro de 1947.


Alfredo Saldanha