segunda-feira, dezembro 12, 2005


O pintor norueguês Edvard Münch (1863-1944) foi uma das personalidades mais influentes do Expressionismo, um movimento artístico que teve Van Gogh como percursor e que viria a desenvolver-se nos inícios do séc. XX.
Nascido em 12 de Dezembro de 1863, filho de um médico de aldeia, a quem acompanhava, ainda criança, nas visitas aos doentes, viu morrerem de tuberculose a mãe e a irmã mais velha. Tais infortúnios marcaram-no profundamente, pelo que as imagens do quarto do doente e do leito da morte se repetem constantemente na sua obra.
Foi essencialmente um autodidacta, apesar de ter frequentado a Escola Estatal de Artes e Ofícios e, mais tarde, em Paris, o estúdio de Bonnat. Na capital francesa conheceu o Impressionismo, mas o seu estilo foi essencialmente influenciado por uma temática simbolista, tratada em formas simplificadas que acentuam a expressividade da cena, a que se juntam o primado da cor dos "fauves" e a linha sinuosa da Arte Nova.
Pintor do sentimento trágico da vida, a generalidade da sua obra privilegia uma temática que exprime estados de alma intensamente subjectivos, frequentemente mórbidos e perturbantes, como o alcoolismo, a solidão, a angústia e ansiedade, a doença e a morte. "Exactamente como Leonardo estudava a anatomia humana, dissecando cadáveres, assim procuro dissecar as almas..." , escreveu a propósito.
Aquilo que acabamos de referir encontra-se perfeitamente documentado em duas das suas telas mais conhecidas: "Ansiedade" e "O Grito".






Em "Ansiedade" a angústia, o espanto, o vazio de alma, a solidão que alucina e enlouquece, encontram aqui uma representação inesquecível. Sob o ponto de vista
estilístico, é notório o forte colorido típico do Fauvisme e a linha sinuosa
da Arte Nova.



"O Grito", o seu quadro mais famoso, é inspirado num dramático pôr-do-sol a que o autor assistiu, num fiorde da sua terra, e que descreveu assim: "... caminhava eu por um atalho, com a cidade de um lado e o fiorde em baixo. Sentia-me cansado, doente... o sol punha-se e as nuvens tornavam-se num vermelho-sangue. Senti um grito passar pela natureza e pareceu-me ter ouvido esse grito... Pintei este quadro com as nuvens cor de sangue. A cor uivava..."
Retratou aquela figura aterrada suprimindo-lhe as feições e, transformando as águas e o céu num ameaçador emaranhado de ondas de cores vibrantes, conseguiu transmitir o sentimento de medo que experimentou naquela ocasião. As estranhas linhas de cor procuram exprimir a agitação e a emoção interiores. O quadro foi roubadp no dia 22 de Agosto de 2004 do Museu Munch, em Oslo, por homens mascarados que escaparam ilesos depois de ameaçarem um dos guardas do museu com uma arma. "O Grito" continua em parte incerta.

Alfredo Saldanha