quinta-feira, janeiro 19, 2006


Nascido em Aix-en-Provence, no Sul de França, em 19 de Janeiro de 1839, Paul Cézanne (1839-1906) acabou por demandar Paris, a capital do vanguardismo artístico da época, fez parte do grupo do Café Guerbois. Partilhou com os seus colegas impressionistas a rejeição das regras académicas e o estudo directo da natureza, tendo utilizado as cores claras e adoptado as pinceladas divididas. Mas este período impressionista foi de curta duração. As suas pesquisas levaram-no a novos caminhos que tinham por objectivo conhecer não apenas o aspecto exterior da realidade, ou seja, a sua aparência, mas, através de uma análise profunda, chegar à própria essência dessa mesma realidade. Por outras palavras, substituiu a impressão do momento fugaz por uma análise objectiva e minuciosa do real. Este processo, que exige a intervenção da inteligência, levou-o, não a diluir os contornos, mas a construir a forma e a descobrir a essência dos objectos.Nota-se esta preocupação em várias naturezas-mortas, como "Pommes et Oranges", onde o artista analisa o que vê diante de si com grande cuidado, de maneira a reter apenas os elementos essenciais, rejeitando todo o acessório, e elaborando mentalmente a composição.



Na obra citada, reduziu as maçãs, laranjas e demais objectos a figurações geométricas: os frutos assemelham-se a esferas, pois é a forma circular que ele retém e não os acidentes. Cézanne afirmava que era necessário "tratar a Natureza por meio do cilindro, da esfera e do cone". Na realidade esta descoberta inovadora, de reduzir os objectos a formas geométricas, encontra-se ligada à génese do Cubismo, principalmente nas últimas obras que realizou, como "Les Grandes Baigneuses".



Neste quadro é por demais evidente a organização arquitectónica, quer nas árvores, inclinadas de modo a formarem um grande triângulo, quer nos grupos de mulheres nuas, também organizadas em formações triangulares mais pequenas no interior daquele. A exactidão anatómica revela-se de menor importância em comparação com as exigências da composição e, por isso, as figuras humanas, grosseiras, desproporcionadas e angulosas sugerem formas geométricas, tal como acontece nos frutos das naturezas-mortas. Os dados do real (figuras e natureza) foram submetidos às necessidades da composição, abrindo caminho à total independência da pintura e às grandes aventuras da arte moderna.

Alfredo Saldanha