terça-feira, janeiro 17, 2006



A VIDA É SONHO

É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.


“A vida é sonho”
Pedro Calderón de La Barca (1600-1681)




A 17 de Janeiro de 1600 nasceu o dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca.
Estudou Teologia no Colégio Imperial dos Jesuítas, e posteriormente Humanidades e Direito nas Universidades de Alcalá e Salamanca.
Em 1620 abandonou os estudos e a carreira eclesiástica, foi morar para Madrid e começou a apresentar-se em sessões poéticas. Três anos mais tarde tornou-se líder do grupo de poetas protegidos pelo rei Filipe IV e escreveu Amor, Honra e Poder. Em 1635, com a morte de Lope de Vega, passou a ser considerado “o mestre” dos palcos espanhóis, e tornou-se dramaturgo oficial da corte. Após receber o título de cavaleiro da Ordem de São Tiago, iniciou uma carreira militar, da qual se retirou em 1642. Em 1651 Pedro Calderón de la Barca foi ordenado sacerdote e 12 anos mais tarde nomeado capelão de honra do rei. Fxou-se na corte e começou a dirigir a representação de autos sacramentais e outras peça. Durante os últimos anos de vida apenas escreveu autos e comédias para a corte. Pedro Calderón de la Barca é autor de uma vasta obra que marcou decisivamente a história do teatro em língua castelhana. Escreveu 80 autos sacramentais, 120 comédias religiosas, de costumes, de amor e ciúme e filosóficas e vinte outras peças de diferentes estilos.