sexta-feira, janeiro 20, 2006



Nascido em 20 de Janeiro de 1815, Jean-François Millet foi um dos principais representantes da pintura realista francesa. O Realismo foi um movimento artístico e cultural que surgiu na Europa nos meados do século XIX, e que pretendeu traduzir, com autenticidade e rigor científico, a realidade física e humana. Protagonistas deste movimento, diversos pensadores e artistas, animados por ideais humanitários, nomeadamente a defesa das classes operárias, foram levados a procurar formas de expressão diferentes das da época romântica.
Millet nasceu no seio de uma família de agricultores normandos, perto de Grenville. Recebeu as primeiras aulas no estúdio dos pintores Dumocel e Chevreville, em Cherbourg. A sua formação continuou em Paris, sob a orientação do pintor Delaroche, tendo-se dedicado a estudar os grandes mestres representados no Louvre, principalmente Giorgione, Miguel Ângelo e Poussin.
O início da carreira de artista foi muito difícil, pintando quadros a pastel para ganhar a vida. Só em 1840 conseguiu expôr pela primeira vez no Salão de Paris. Por essa altura conheceu Theodore Rousseau, Corot, Daumier, Silva Porto e outros artistas que o influenciaram a mudar-se para a pequena aldeia de Barbizon, na floresta de Fontainebleau. Eles tinham em comum o interesse pelo estudo directo da natureza, e tomavam apontamentos ao ar livre, de forma a tornarem a pintura mais real e verdadeira. Além disso preocupavam-se em fazer uma análise objectiva da realidade do homem e da vida quotidiana, procurando, ao mesmo tempo, denunciar a exploração dos oprimidos e das classes sociais mais desfavorecidas, quer do meio rural, quer urbano.





Esse sentido humanista em favor de um dos sectores mais degradados da sociedade, o campesinato, encontra-se, por exemplo em "Les Glaneuses", onde representou o trabalho árduo de três camponesas curvadas, na difícil tarefa da apanha das espigas que restaram da ceifa.





"L' Angelus"
é outra criação repassada de tristeza e nostalgia que revela a realidade do trabalho rural, com duas enormes figuras em contraluz, cujos contornos se dissolvem numa iluminação peculiar. Os tons amarelados e terrosos fazem ressaltar mais ainda o aspecto desolador da planície interminável, e detecta-se igualmente a valorização preferencial da terra em relação à atmosfera, dada por uma linha do horizonte intencionalmente elevada. Com Millet e, de um modo geral, com os realistas, as rígidas convenções académicas e os ideais românticos foram abandonados. A arte passou então a ser encarada como um processo interpretativo da verdade do mundo físico e social. Os conteúdos temáticos passaram a ser a paisagem, os assuntos do quotidiano, nomeadamente as cenas relacionadas com o mundo do trabalho, tipos populares e temas representativos da sociedade.
Alfredo Saldanha