segunda-feira, janeiro 23, 2006

Édouard Manet, um dos mais famosos pintores franceses do séc. XIX, nasceu em 23 de janeiro de 1832.
Apesar de não poder ser considerado um impressionista, pois não adoptou a técnica das pinceladas justapostas, nem baniu da sua paleta os tons escuros, Manet influenciou o aparecimento daquele movimento através do gosto pela pintura de ar livre, da preferência pelas cores claras e de uma temática que evoca a vida moderna parisiense. Ele foi, além disso, uma figura respeitada e um exemplo para a tertúlia do Café Guerbois, constituída por artistas e intelectuais de vanguarda, sobretudo a partir do Salão dos Recusados de 1863. Este salão fora instituído nesse ano pelo imperador Napoleão III e destinava-se aos trabalhos artísticos recusados pelo júri do Salão Oficial para que o público deles tivesse conhecimento e os avaliasse.



Manet expôs um quadro intitulado "Le Déjeuner sur l`Herbe" que retomava o tema do "Concerto Campestre" de Giorgione, mas com uma expressão e uma linguagem totalmente modernas, retratando, numa paisagem, uma mulher nua ao lado de dois jovens vestidos com fatos da época. O quadro escandalizou principalmente pelo tema, considerado escabroso pelo acentuado realismo do nu feminino, tão contrário aos nus clássicos. Além disso, revelava a adesão a uma nova estética assente nos fortes contrastes cromáticos entre os casacos negros dos cavalheiros, as tonalidades branco-rosado da mulher nua e o o enquadramento natural da cena com os vários cambiantes de verdes, brancos e terrosos que formam o enquadramento natural da cena. E foi exactamente este sentido de actualidade e modernidade, que fez do quadro um autêntico manifesto de ruptura com a pintura académica.



Acolhida com igual agressividade foi "Olímpia", onde retratou uma jovem, nua e reclinada na cama. O quadro encontra-se na linha temática tradicional de representação do "nu", tema comum nas exposições dos Salões, mas, ao contrário dos nus tradicionais, frios e idealizados, o de Manet é tão cheio de realismo que a carne parece viva e quente. Além disso, os nus académicos eram impessoais e alegóricos (representavam a Verdade, a Primavera, etc.), enquanto este retrata Victorine Meurand, um modelo profissional bem conhecido. O carácter de inovação dado pelo realismo da cena e pelos contrastes que se estabelecem entre o nu e o xaile bordado, ou entre a brancura dos lençóis e a figura da criada negra que lhe traz um ramo de flores, teriam forçosamente de escandalizar a Academia. Manet dedicou especial atenção à evocação da vida moderna parisiense, revelando o mundo dos bares e dos cafés em obras como "La Serveuse de Bocks" e "Un Bar aux Folies-Bergères". Apesar de ter desempenhado um papel importante na renovação artística do seu tempo, foi uma personalidade com algumas contradições. Primeiro, porque embora tivesse alimentado a chama da contestação ao academismo, nas reuniões do Café Guerbois, acabou por se recusar a expor na 1ª Exposição Impressionista (1874), porque teve receio de ficar mal visto perante o júri do Salão oficial. Depois, porque sendo dos primeiros a usar as cores claras, continuou a manter os tons escuros, os castanhos e os cinzentos, banidos da paleta dos impressionistas.


Alfredo Saldanha