segunda-feira, janeiro 30, 2006

A 30 de Janeiro de 1948, Mahatma Ghandi, líder espiritual e dirigente da luta pela independência da Índia, foi assassinado por um fanático hindu. Ghandi nasceu em 2 de Outubro de 1869 em Porbandar, estado de Gujarat, na Índia. Aos 13 anos casou-se com Kasturbai, da mesma idade, numa união previamente acertada entre as famílias dos noivos. Aos 19 foi estudar Direito para a Universidade de Londres e, após a conclusão da licenciatura começou uma bem sucedida carreira de advogado em Durban, na África do Sul.
Um dia, quando viajava de comboio, em primeira classe, exigiram-lhe, que se transferisse para a terceira. A causa foi a cor de pele. Ao recusar a mudança, foi atirado para fora do comboio, um incidente que acabou por determinar a sua participação na luta contra as leis discriminatórias e racistas vigentes na altura. Quando regressou à Índia, que fazia parte do Império Britânico, passou a vestir "khadi", uma indumentária usada pelos mais pobres entre os indianos, e começou a promover o fabrico artesanal dos tecidos. O tear manual, símbolo deste acto de afirmação, viria a ser, mais tarde, incorporado na bandeira indiana.
Esta tomada de posição inseria-se numa estratégia mais vasta: o "swadeshi", ou seja, o boicote a todos os produtos importados, especialmente os produzidos na Inglaterra, constituiu um dos primeiros episódios do movimento em prol da independência da Índia.
Pregando a não-violência como forma de luta, Ghandi incitou os seus compatriotas indianos a resistirem de forma pacífica, a recusarem cargos públicos, a retirarem as crianças das escolas oficiais e organiza uma greve contra o aumento dos impostos. A posição pró-independência ganhou um novo fôlego após o Massacre de Amritsar em 1920, quando os soldados britânicos abriram fogo, matando centenas de indianos que protestavam pacificamente contra as medidas autoritárias do governo e contra a prisão de líderes nacionalistas indianos.
Uma das acções de protesto mais eficientes e espectaculares que promoveu foi a "marcha do sal", iniciada a 12 de Março e terminada a 5 de Abril de 1930. Ghandi conduziu milhares de compatriotas até ao mar, caminhando a pé mais de 320 quilómetros, com o intuito de extrair sal e evitar pagar a taxa prevista sobre o sal comprado.
A 8 de Maio de 1933, Ghandi começou um jejum que duraria 21 dias, em protesto contra "opressão Britânica" e, em Março de 1939, voltaria a jejuar em protesto contra as regras autoritárias e autocráticas dos colonizadores ingleses. Começou então a ganhar notoriedade internacional pela política de desobediência civil e pelo uso do jejum como forma de protesto. Por este motivo foi preso diversas vezes. Durante a II Guerra Mundial, o grito "Quit Índia fez-se ouvir cada vez mais. Ghandi e seus partidários deixaram claro que não apoiariam a causa britânica na guerra a não ser que fosse garantida à Índia independência imediata.
Novamente preso pelas forças britânicas, em Agosto de 1942, foi mantido no cárcere, durante dois anos, em Bombaim. A 15 de Agosto de 1947, viu coroados de êxito os esforços e campanhas de longos e sofridos anos: a Índia é proclamada independente. Porém, no dia da transferência de poder, Ghandi não celebrou com o povo. Apesar dos seus esforços e da influência que detinha sobre as comunidades hindu e muçulmana, não conseguiu evitar o estabelecimento de um Estado muçulmano separado: o Paquistão. Algum tempo depois acabaria por aceitar a divisão do país, mas atraiu o ódio dos nacionalistas hindus e, no dia 30 de Janeiro de 1948, foi assassinado, em Nova Déli, por um hindu radical. Ghandi nunca recebeu o Prémio Nobel da Paz, apesar de ter sido indicado cinco vezes entre 1937 e 1948. No entanto, quando o Dalai Lama foi premiado, em 1989, o presidente do comité organizador do Nobel afirmou que aquele prémio era também "um tributo à memória de Mahatma Ghandi".


Alfredo Saldanha