segunda-feira, novembro 14, 2005


Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) foi um dos mais destacados pintores portugueses do início do modernismo. Nasceu a 14 de Novembro de 1887, em Manhufe (Amarante), e estudou na Academia de Belas Artes de Lisboa. Em 1906 partiu para Paris, o grande centro do vanguardismo artístico. Participou em várias exposições importantes e, em 1912, publicou um album de desenhos, muito elogiados pela crítica, onde é manifesta a influência de Modigliani, com quem conviveu e de quem foi grande amigo. A participação nos Salões parisienses, especialmente no Salão de Outono de 1912, valeu-lhe o convite para a primeira grande exposição de arte moderna nos Estados Unidos, a famosa Armory Show de 1913. Surpreendido com o eclodir da 1ª Guerra Mundial regressou a Manhufe. A correspondência mantida com Robert e Sonya Delaunay, então residentes em Vila do Conde, trouxe-lhe a influência do Orfismo, através dos círculos delaunyanos, que se tornam numa espécie de "alvos" em algumas obras de 1916. No Verão desse ano, primeiro no Porto e depois em Lisboa, teve lugar a única exposição que realizou em Portugal. A do Porto intitulava-se "Abstraccionismo". A de Lisboa abandonava aquele título e apresentava um prefácio-manifesto de Almada Negreiros onde se referia que "Amadeo é o documento conciso da Raça Portuguesa no séc. XX. "Trou de la Serrurre..."(na imagem), uma das obras então expostas, sintetiza as diversas vias de reflexão que o haviam ocupado desde 1915, fundindo, com grande liberdade, os motivos cubistas e as influências da arte popular e do folclore.



Com esta exposição, considerada por Almada como "a primeira descoberta de Portugal na Europa do séc. XX", o modernismo português atingiu o seu ponto mais radical. Souza Cardoso foi, sem dúvida alguma, a figura mais brilhante e representativa da participação portuguesa na renovação artística europeia. Na sua obra podemos identificar grande diversidade de propostas e linguagens estéticas que passam pelo Expressionismo, Simbolismo, Cubismo, Orfismo, Futurismo, Dadaísmo e Abstraccionismo.
Uma epidemia de pneumónica que se abatera sobre a Europa haveria de vitimá-lo, em Outubro de 1918. Por estranho que pareça, a sua obra esteve praticamente ignorada em Portugal até cerca de 1956, altura em que José Augusto França publicou um trabalho sobre a sua vida e obra.

Alfredo Saldanha