terça-feira, novembro 01, 2005


Kozak Collection: Lisbon, Portugal earthquake, Nov. 1, 1755


A 1 de Novembro, Lisboa sofria um Grande Terramoto, que atingiu 8,5 graus na escala Richter

"Nunca se vira manhã mais bela que a de 1.º de novembro de 1755. O Sol brilhava em todo seu esplendor, e o céu estava perfeitamente sereno e claro. Não fora sentido o menor sinal de aviso do grande evento que deveria transformar, em matéria de segundos, a cidade de Lisboa numa cena de horror e desolação gerais. "

Nesse dia de manhã, a terra tremeu. A essa hora os crentes estavam no interior das Igrejas, assistindo à missa do dia de todos os santos. Das 40 principais Igrejas da cidade, 35 ficaram destruídas. Alguns instantes após o terramoto, um tsunami arrasou a parte baixa da cidade. Duas semanas após o terramoto, o cônsul britânico em relatou numa carta enviada para Londres:

"O primeiro abalo começou as 9h45, e, na medida em que pude avaliar, durou seis ou sete minutos, de modo que em um quarto de hora esta grande cidade estava em ruínas. Pouco depois começaram vários incêndios, que queimaram durantes cinco ou seis dias. A força do terremoto parecia estar exatamente sob a cidade. Dizem que ele se descarregou no cais que vai da Casa da Alfândega em direção ao palácio real, que foi totalmente arrasado e desapareceu. Na hora do terremoto as águas do Tejo ergueram-se 20 ou 30 pés".

A récem construída Casa da Ópera foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, situado onde hoje existe o Terreiro do Paço foi destruído pelo terramoto e pelo tsunami. Dentro, a biblioteca de 70 mil volumes e centenas de obras de arte foram perdidas. O Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto destruiu ainda as maiores igrejas de Lisboa, as ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade.
A família real escapou ilesa à catástrofe. O rei D. José I
e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, e encontravam-se em Santa Maria de Belém na altura do terramoto. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda em Lisboa.

O terramoto de 1755 reflectiu-se em toda a Europa.
Voltaire referiu-se a ele numa das importantes passagens de "Cândido", o optimista que apesar de todas desventuras acredita que tudo vai pelo melhor. Chega Cândido a Lisboa:
“e tão logo puseram o pé na cidade sentem a terra tremer sob seus passos. O mar ergue-se fervilhando sobre o porto e destrói os navios ancorados. Turbilhões de chamas e cinzas cobrem as ruas e as praças públicas, as casas desmoronam, os tetos tombam sobre as fundações e estas desfazem-se. Trinta mil habitantes de todos os sexos e são esmagados sob as ruínas”.
Em 1756 Voltaire escreveu ainda um "Poema Sobre o Desastre de Lisboa", um texto muito útil para a compreensão do pensamento iluminista do século 18. Através dele questiona-SE a bondade infinita de Deus. Aliás, o facto de o terramoto ter ocorrer num feriado religioso e ter destruído várias igrejas importantes, levantou muitas questões religiosas em toda a Europa. Para a mentalidade do século XVIII esta manifestação da ira divina, era de difícil explicação.
Jean Jacques Rousseau contrapõe Voltaire e aponta causas naturais, como justificação para o acontecido.
que “culpa tinha a Providência Divina se os lisboetas decidiram ao longo dos tempos construir vinte mil casas, algumas de seis ou sete andares, e arranjarem-se assim todos amontoados na margem do rio Tejo?”

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve.
O Marquês do Pombal foi o responsável pela reconstrução da cidade. A sua resposta competente garantiu-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveitou para reforçar o seu poder, e tornar-se ainda mais absolutista.

A partir de hoje, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e o jornal Público lançam uma série de quatro livros sobre o terramoto de Lisboa de 1755.