quinta-feira, novembro 17, 2005

A pintura e, de certo modo, a arquitectura, conheceram mudanças profundas ao longo do séc. XIX, mas o mesmo não aconteceu com a escultura que teve dificuldade em libertar-se da tradição académica. Apesar disso, alguns artistas, procuraram representar os modelos com realismo, para além de lhes acrescentarem uma certa expressividade. O maior de todos estes inovadores foi, sem dúvida, o escultor francês Auguste Rodin (1840-1917).
Em 1875, depois de uma viagem a Florença, modelou a sua primeira grande obra, "A Idade do Bronze", um nu masculino que provocou vivas discussões no Salão da Academia de 1877 e atraiu a atenção do público sobre o autor.
Em 1880 recebeu a primeira encomenda oficial: uma porta em bronze para o Museu de Artes Decorativas de Paris, que denominou "Porta do Inferno", inspirado na Divina Comédia de Dante, e na qual esculpiu mais de duzentas figuras.



Realizou entretanto uma exposição de 168 esculturas, entre as quais "O Beijo" e "O Pensador". A última destas obras, de musculatura acentuada e expressão concentrada, evoca as figuras do túmulo dos Médicis, esculpidas por Miguel Ângelo. O artista florentino marcou de tal forma a arte de Rodin que este chegou mesmo a afirmar: "A minha libertação do academismo foi feita através de Miguel Ângelo". Detecta-se ainda a influência do Buonarroti na "Danaïde", um dos muitos trabalhos onde é perfeitamente notória a técnica do non finito.



À acusação de "não acabar" e de "deformar" as figuras, responde: "No essencial, os meus modelos estão lá representados, mas estariam menos se a obra fosse mais ´acabada´..."
Estas e outras obras valeram-lhe uma enorme fama e numerosas encomendas. Uma delas acabou por gerar viva controvérsia ao ser rejeitada pelos encomendadores. Tratou-se da estátua de "Balzac" que tinha sido encomendada pela Société des Gens de Lettres de Paris, mas que não foi aceite pelo seu aspecto grosseiro e por dar a ideia de estar inacabada.
O alheamento das normas tradicionais pode considerar-se ainda o denominador comum de outras composições como o monumento a "Victor Hugo" e "Les Bourgeois de Calais", um conjunto escultórico composto por seis figuras, com os pés descalços e corda ao pescoço, representando a humanidade sofredora.

Alfredo Saldanha