quinta-feira, junho 15, 2006


Em 15 de Junho de 1938 faleceu Ernest Ludwig Kirchner (1880-1938).
Nascido em 1880, este artista alemão estudou arquitectura na cidade de Dresden, mas interessou-se também pela pintura e pela gravura em madeira. Desde muito cedo começou a sentir a excitação das grandes novidades que chegavam de Paris: o Fauvisme, o Cubismo, a arte de Van Gogh, Gauguin e Münch, a arte africana e do Extremo Oriente.
Os seus ideais viriam a ser rapidamente partilhados por um grupo de três jovens companheiros da escola de arquitectura: Bleye, Heckel e Rottluff, que passaram a reunir-se no seu estúdio, produzindo em conjunto folhetos, cartazes, catálogos e gravuras sobre metal ou madeira, utilizando cores fortes e grandes contrastes de luz e sombra. Revelavam, além disso, especial interesse pelo artesanato e pela arte popular.
Este jovem quarteto acabaria por fundar a tendência expressionista do Die Brücke. No aspecto formal, a estética do grupo é definida por formas e figuras simplificadas, esquemáticas e de desenho rude, muitas vezes contornadas a negro e preenchidas por cores planas agressivas e contrastantes, à maneira de Gauguin.



Esta violência cromática acompanha uma temática essencialmente constituída por cenas do quotidiano e da vida agitada das grandes cidades alemãs (ex: "Rua de Dresda" na imagem), através das quais se procurava denunciar o materialismo trazido pelo processo de industrialização e todos os aspectos negativos da sociedade moderna: a prostituição, a miséria, a injustiça, a exploração e opressão do operariado. Trata-se, pois, de uma arte de intervenção social, ou seja, uma arte de acção em favor das classes proletárias. Em 1914 Kirchner foi convocado para a guerra, e um ano depois tentou o suicídio. Quando recuperou do ferimento, voltou a pintar ao ar livre, em sua casa, na região dos Alpes.
Em 1931 foi nomeado membro da academia de Berlim, sendo finalmente reconhecida a sua contribuição para a arte alemã mas, seis anos mais tarde, durante o nazismo, viu parte da sua obra ser destruída e desprestigiada pelos órgãos de censura.A partir daí os seus quadros transformaram-se num amontoado neurótico de cores contrastantes e agressivas, produto de uma profunda tristeza e, em 15 de Junho de 1938, pôs fim à própria vida.

Alfredo Saldanha